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Quinta de Vale de Pios, a descoberta de um terroir
por Joaquim Almeida

Depois de horas debruçados sobre cartas militares, cartas geológicas e muitos quilómetros de pó, encontrámos a quinta de Vale de Pios. Um vale com mortórios e pés de vinha pré-filoxera em local inesperado. Estávamos no Douro Superior, perto de Barca d´Alva, no lugar de Olgas, em pleno Parque Natural do Douro Internacional, rodeados de oliveiras centenárias, do tempo em que os monges cistercienses por ali passaram.

Análises de solo confirmaram xisto câmbrico com pH elevado e uma disponibilidade de minerais e nutrientes extraordinária, que juntamente com amplitudes térmicas diárias muito elevadas e altitudes entre os cento e sessenta e trezentos metros, decerto justificaram a escolha deste local pelos antigos.

Os declives existentes possibilitaram a instalação de vinha ao alto e não em patamares, o que, com o enrelvamento da entre-linha, possibilita um melhor controlo dos fenómenos de erosão. A existência de uma linha de água, que sustenta um ambiente rico em fauna e flora autóctone, revelou-se de extraordinária importância na fase de instalação das novas parcelas. As elevadas amplitudes térmicas e a secura extrema, tão características desta freguesia de Escalhão - declinação da palavra secalhão - permitem-nos, mais do que a prática de uma agricultura biológica ou biodinâmica, uma agricultura natural.

 A escolha das castas foi feita com base na experiência de trabalho no Douro e em mais alguns quilómetros de pó a catalogar vinhas velhas do Douro Superior, o que se revelou surpreendente. Algumas das castas hoje consideradas menos nobres eram em outros tempos fundamentais pelo que acrescentam em “sumo”. Hoje trabalhamos pequenos talhões nos quais definimos a composição do lote.

Cuidamos com esmero as bordaduras, pomares e pequenos bosques de árvores, pois acreditamos que a presença destas manchas de frescura em clima de extremos é tão ou mais importante que a rega, e sem os inconvenientes desta.

Na nossa adega tentamos combinar o melhor das mais antigas tradições, como a utilização de lagares para o “corte” e arranque de fermentação, onde a “manta” fina protegida pela libertação de dióxido de carbono nos permite melhor extracção, com as mais modernas tecnologias de vinificação, como macerações prolongadas em cuba com controlo de temperatura e remontagem com bombas tipo mono durante o final de fermentação, sem dúvida as menos agressivas. Os nossos vinhos realizam prolongados estágios em barricas novas de madeira de carvalho francês.

Temos três vinhos tintos no mercado, um grande vinho com elevado potencial de envelhecimento, um reserva, mais elegante, claramente um vinho de terroir e um vinho sem estágio em madeira, mas que nos transmite a complexidade que só uvas produzidas em condições tão extremas desenvolvem.

Vale de Pios é produzido a partir de uvas criteriosamente seleccionadas e só será lançado no mercado em anos excepcionais. As castas que o compõem e a proporção de cada uma, dependem das condições do ano.

Pios é um vinho de terroir, que procura casar técnicas ancestrais de viticultura e vinificação com os padrões modernos das mais prestigiadas escolas de enologia. Um vinho único que exprime todo um ambiente, toda uma história, toda uma cultura.

Excomungado é um vinho onde a intervenção do homem é reduzida ao mínimo, onde se pretende pôr a vinha dentro de uma garrafa.